sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

passeando pelos arredores

sempre que alguém vem de visita, lá vamos aos sítios e experiências do costume: comer moreia frita e pastéis de milho na cidade velha (ou frango, neste caso...)

seguido de um passeio pela cidade...
estas casas com as portas abertas, uma em frente da outra, fascinam-me não sei bem porquê... bem sei que para os donos é apenas uma evolução natural das construções, que permite ventilar a casa de forma mais rápida e eficiente, mas há qualquer coisa mais... (e também não percebo por que raio reagem mal quando me apanham a fotografar-lhes a intimidade... )

para os mais incrédulos, uma viagem de hiace costuma ser mais ou menos assim (com mais 2 filas de pessoas atrás das duas senhoras do centro - uma média de 21 pessoas por viagem)

noutro dia, noutro local da ilha... mais para o interior, perto de rui vaz (é o nome da terra, não é um senhor que anda por aquelas bandas...)

a ilha do fogo, vista de santiago (aquele ponto mais alto é a cratera, até onde subimos na nossa primeira viagem...)

almoço no tarrafal, num outro dia... uma grelhada mista de peixe, com búzio incluído (sim, já como animais inteiros agora... mas fica só entre nós...)

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

pela cidade - placas

pela cidade fora existem muitos espaços onde os locais podem dar azo ao culto do corpo (grande parte da população é louca por exercício e a toda a hora há alguém a correr, ou a fazer flexões e abdominais.. na praia, nos passeios, em todo o lado..). neste, oferecido pelo partido da oposição, está esta pérola da campanha eleitoral: a rapariga com um ar infeliz (bastante convincente) pergunta pela bolsa de estudos (o slogan significa: "é preciso mudar")

este foi dos primeiros outdoors que vimos quando cá chegámos, e ainda consegui encontrar um de pé...

mas este ganha todos os outros! durante o mundial, passavam o anúncio desta marca local de iogurtes nos intervalos dos jogos, e garanto-vos que é muuuuuuuuuuuuuuito bom! o jovem iogurte dança com as crianças (que mais parecem mini-tâgs) e no fim até faz o cumprimento oficial tâg... pena não estar no youtube...

passeando pela cidade...

a propósito duma visita da europa, voltaram os passeios pela cidade, devidamente acompanhados pela máquina fotográfica. e por mais que eu diga que não há muito para fazer por cá, e que em poucos dias se esgota tudo... só no fim do tour (completo!!) feito em apenas 2h, vem um "afinal tinhas razão..." (já aconteceu com 3 ou 4 visitas... por isso comecem a acreditar em mim, se fazem favor, e enviem-me o dinheiro que poupam na viagem como agradecimento!)

acima, foto da central eléctrica - olhando assim, é fácil perceber por que passamos a vida a ter cortes de energia... até agora, o record foram 15h consecutivas, um frango e uma embalagem de ervilhas "pó caraças"...

mercado improvisado, na escadaria a caminho do mercado oficial - o sucupira. aos domingos, o mercado normal fecha e estas senhoras montam a moia (calma, não é nada do que estão a pensar... é o nome crioulo deste mercado "de saldos", onde se vendem mercadorias importadas em bidons) na estrada ao lado

já à porta do sucupira, uma rabidante (vendedeira) de cestos e bindes (aqueles objectos cerâmicos que parecem sinos, ali junto aos pés da senhora, que servem para cozinhar couscous)

imagem do interior do sucupira, na zona dos plásticos... e da comida... e da roupa.. ok, se calhar não há zonas bem delimitadas por lá...

diz-se por estes lados que, quando um autocarro sente que o fim se aproxima, força a direcção até vir parar ao grande cemitério dos autocarros, cujo paradeiro é secreto para todas as outras viaturas...

um dos espaços da moda... o kapa (na minha opinião, o ambiente não é dos melhores... cheio de europeus a fingirem que são africanos e africanos a fingirem que são europeus... mas as pizzas não são más...)

e finalmente, as escadas da morte!!
pronto, estou a exagerar outra vez... mas desde o início que nos avisaram para nunca subir estas escadas à noite, porque o cassubodi (assalto levado a cabo pelos tâgs - jovens emigrados, pouco simpáticos, que foram forçados a regressar da américa, de onde trouxeram os termos [tâg = thug; cassubodi = cash or body] e a violência mal direccionada...) era garantido. fomos experimentando aos poucos, em grupos grandes, e nunca nos aconteceu nada... mas recentemente temos ouvido relatos de retoma da actividade e deixámos de arriscar...

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

boa vista - placas

cá está ela, a terra da olaria tradicional!... e tantas boas piadas que se podem fazer (e fizeram...) com este nome...

no meio do nada... é sempre um bom conselho... afinal há filosofia nestas ilhas...

estes são todos os sítios fantásticos que nos recomendaram e que não vimos, porque estava a ficar escuro, não havia muitos postes na rua e as estradas eram demasiado exigentes para o nosso carrito a pilhas... (também já fomos fora da época da desova das tartarugas, o que foi pena...)

boa vista - dia 2

no segundo dia, alugámos um carro (um terios sem suspensão, e com gafanhotos de oferta) e fomos dar uma volta pela ilha, na tentativa de fugir dos senegaleses e guineenses que nos convidavam amavelmente a visitar as suas lojas "sem compromisso" "porque os portugueses têm bom coração" para depois ficarem agressivos e quase violentos quando não queríamos comprar nada do "artesanato cabo-verdeano" que vendiam... (confesso que me fez bem, porque rapidamente me passou a compaixão/totozice e ao fim do terceiro já lhes respondia devidamente...)
a caminho de santa mónica (uma praia deserta interminável, boa para se fazer aquilo que podem adivinhar... e eu sem a companhia certa...) passámos por um cemitério índio (apanharam-me outra vez.. eram só umas centenas de pedras empilhadas, ao lado duma pedreira, não sei o que seriam...) e milhares do que pensávamos serem borboletas, mas eram apenas gafanhotos (mas juro que voavam e abriam as asas e ficava uma mancha branca no ar... seriam duendes?...)

numa das terrinhas por onde passámos (povoação velha, acho) fomos recebidos por um senhor muito prestável que vendia... isso mesmo: "artesanato cabo-verdeano" (as mesmas porcarias do costume, feitas no senegal...) e encontrámos estes sorridentes miúdos-tapete

cá está o areal bom para... ler... muito... e... coiso...

acima, o rasto duma tartaruga marinha (há quem diga que fui eu que deixei estas marcas, a arrastar-me pelo areal, enquanto tentava aproximar-me de um caranguejo sem que ele se escondesse na areia... mas mentem!pessoas mal-intencionadas!..)

já de volta à capital, sal rei, num dos poucos sítios onde não erámos assediados por vendedores-passivo-agressivos

aqui fica uma escola de olaria, que produz o único produto verdadeiramente "artesanato cabo-verdeano", e que por isso merece toda a divulgação! aqui se fazem umas tartarugas de barro, simples, mas que têm o mérito de apoiar a economia local (e é sempre giro oferecer prendas que dizem por baixo "lembrança do rabil" - rabil é o nome da terra, calma...).
para uma ilha que supostamente vive do turismo, bem podiam fazer mais para merecer esse título: as únicas lojas na cidade são as dos tais guineenses, e tentar comer ao domingo ou mesmo ao sábado depois das 14h é impossível... assim visto de fora, parece-me que há muito mais a fazer do que apenas marcar os preços em euros (mal convertidos, como convém) e esperar que o dinheiro caia... mas isso sou eu...

(sim, eu sei que o turista que vai para esta ilha fica nos resorts, estoira os euros em actividades naúticas e compra alegremente os fios mal-cheirosos do senegal para levar para os amigos... mas caramba... há turismo para além disso, não?!..)

boa vista - dia 1

mais uma viagem pelo território.. desta vez, o paraíso dos turistas: a ilha da boa vista!
esta era a vista do quarto onde fiquei... nada mal, não?

"não, mãe... aqui não há tubarões... descansa..."
ok, havia... mas era bebé... e na areia... e morto...

e de resto, só havia disto... areia branca, mar azul... (não vou falar dos milhares de fragmentos de corais mortos, para não destruir a imagem...)

e toldos e restaurantes na praia... vida de turista sem ambições... (que é coisa de que até não gosto muito, mas naquele fim-de-semana até soube bem descansar...)

acima, o habitat de uma espécie endémica de caranguejos-escultores, muito difíceis de avistar... ok, pronto... são só formas na areia provocadas pela erosão do vento, mas podiam ser caranguejos...

e ao fim do dia, descansar na rede... ahhh...

serra malagueta II

o grupo com que fomos era bastante heteregéneo em termos etários e de preparação física, por isso acabámos por não andar muito... mas mesmo sem o tempo a ajudar (a altitude também propicia dias de nevoeiro com alguma frequência...) ainda conseguimos vislumbrar umas paisagens impressionantes (ou aquilo que nos parecia que deveriam ser paisagens impressionantes...

... só nós e a natureza virgem e inalterada... ah, e os contentores perdidos no meio da serra...

pronto, ok, não eram tantos assim os contentores...

... eram mais as paisagens impressionantes (ao fundo, naquele bocadinho azul, quase que se vislumbra o tarrafal... onde as praias são azuis e os dias limpos o ano inteiro...)

este costume de aproveitar os terraços das casas para criar porcos e galinhas parece-me mesmo boa ideia... a ver se consigo implementar isto lá em casa quando voltar...

serra malagueta I

aproveitando o "esverdeamento" súbito da ilha, fomos passear ao interior, mais propriamente à serra malagueta. segundo consta, a serra recebeu o nome por ter sido, em tempos, a casa da sra. malagueta - aquela senhora simpática que espirrava e... não, esperem.. não é nada disso... e também ninguém me soube explicar...

o acesso à serra está muito bem sinalizado: apenas é necessário passar ao lado da entrada, andar uns 300m para comprar o bilhete, depois regressar a pé para passar o portão tipo-jurassic-park onde ninguém está a controlar as entradas, e finalmente saltar a corrente...

não consegui ver de onde estes senhores saíram mas, a julgar pelas roupas, tenho a certeza que tinham 60 anos quando saíram de casa... deve haver uma espécie de fonte da juventude algures na serra... um dia volto lá com tempo e procuro...

aqui está a entrada natural da serra, devidamente anulada pelo mamarracho estilo-jurássico que construíram a 20m dali...

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

férias das férias da realidade

cá estou, de volta à civilização, e à net que mexe em simultâneo com o rato... tão rápida que o meu portátil formatado para a realidade crioula recusa-se a colaborar e não reconhece esta nova realidade temporária... e prometo que vou arranjar um tempinho para actualizar isto enquanto cá estiver...

... isto é.. quando deixar de ficar parado na rua, a absorver os odores familiares (o cheiro a sábado de manhã, a bairro alto de madrugada, a jantar de amigos, ...) e terminar de estranhar e re-entranhar tudo e todos...

em breve, prometo... (ou tentarei, pelo menos...)

domingo, 21 de novembro de 2010

tarrafal - o campo de concentração


foto da primeira tentativa de visita ao campo de concentração do tarrafal, onde nos ficámos pela entrada, por falta de tempo... (as árvores ao fundo estavam mais coloridas nesta altura...). deu para ver os miúdos que brincam alegremente por perto e esperam pelos turistas para pedir umas moedas, e a senhora que nos pede 100$00 (menos de 1€) para visitarmos umas estranhas casas velhas e mal pintadas, sem oferecer nada em troca...



e quando finalmente o conseguimos visitar, deparámo-nos com um imenso campo verde, com uns "pavilhões" amarelos dispersos, completamente descaracterizados e despojados de alma... um campo que tanto podia ter acolhido e torturado presos políticos como miúdos sorridentes que aprendiam a ler e escrever...









acreditem que é preciso algum esforço para imaginar o que estas paredes terão visto, e devolver-lhes a importância merecida (e para transparecer isso nas fotos, então.. muito talento..:))

kapoc (mais d'assomada)

logo a seguir à assomada, virando à direita, começamos a descer para um pequeno paraíso tropical (dos poucos sítios que são sempre verdes, mesmo fora da época das chuvas...), conhecido por uma ancestral árvore gigante - uma kapoc (parece que este é o nome da espécie) que, supostamente, é anterior à descoberta e colonização das ilhas...





na descida, há uma povoação ("boa entrada") simpática, que se desenvolve ao longo de uma estrada em espiral, salpicada de casas onde pessoas e porcos convivem alegremente e dividem, literalmente, o tecto... (e sim, não há portas naqueles compartimentos.. presumo que os leitões sejam despejados lá e ali vão crescendo "saudavelmente, no campo" até serem abatidos...)



e aqui está ela, o nosso objectivo! não sei precisar a altura do ser, mas acreditem que quando tirei esta foto ainda estava longe...



só estas raízes terão três ou quatro vezes a minha altura...


impressiona, a energia que se sente aqui... (e é inevitável pensar no "avatar" - sinais dos tempos) mas impressiona ainda mais a quantidade de "animais" que acham que esta criatura imponente é apenas um bom suporte para riscar nomes e mensagens parvas...